18.3.13

Smartphones



Será que os smartphones melhoram mesmo nossas vidas? Estamos mais conectados, é verdade. Temos acesso à todo tipo de informação à qualquer hora e em qualquer lugar. Sacamos nosso celular do bolso e em alguns segundos temos a resposta a nossa dúvida. Sabemos o que nossos amigos estão fazendo, estamos mais próximos. Será mesmo?

Esses dias, comecei a perceber que perdi o domínio consciente das minhas mãos. Entro no elevador e minhas mãos automaticamente entram no meu bolso e tiram meu celular. Acabo uma refeição e como num reflexo, alcanço meu smartphone, digito minha senha para ver alguma coisa que eu nem sei o que é. Não existe mais espera sem celular. Um segundo de impaciência já é motivo para empunhar meu aparelho.

A grande verdade é que o smartphone está acabando com nossa paciência. Eliminamos a espera, a escuta e a percepção do ambiente externo porque esses gadgets funcionam como imãs para nossa atenção. No fantástico livro O Poder do Hábito, o autor Charles Duhigg fala sobre como os hábitos se formam. Basicamente uma rotina é estabelecida quando há uma deixa e nosso cérebro aciona o comportamento automático em busca de algum tipo de satisfação. Mas o lance é que cada vez mais, qualquer situação é uma deixa: entrar no elevador, terminar uma refeição, uma sala de espera, um silêncio inesperado, uma pausa numa conversa.

Eu sempre tive dificuldade de me concentrar por muito tempo em uma mesma coisa. Ultimamente, essa dificuldade ficou ainda maior. Quando o cérebro começa a se cansar de uma atividade, ele pede por algum tipo de distração. E que distração é melhor que um monte de informações disponíveis ao alcance das mãos? Criamos um novo movimento involuntário: piscar, respirar, salivar, mexer no celular.

Estamos perdendo a capacidade de raciocinar, de forçar o cérebro até ele se lembrar de uma informação. “Como é mesmo o nome daquela atriz que fez aquele filme?” 1, 2, 3 segundos...”Ah deixa eu procurar no Google. Aqui está. Jennifer Lawrence! Era essa mesmo!” Pra que gastar o cérebro?

A mesma tecnologia que nos conecta a todas as pessoas que conhecemos, nos afasta dos nossos amigos mais próximos. Estamos em contato com eles o tempo todo: facebook, twitter, instagram, whatsapp. Eu sei o onde eles estiveram, sei onde foram e sei que estão bem. Então, pra que ligar pra conversar, não é mesmo? Meus amigos estão me achando sumido, deixe então eu responder com um “hahaha” em um dos chats que temos para que eu mostre que estou presente. Quando foi a última vez que você ligou para conversar com seus 5 melhores amigos?

Estamos criando uma sociedade de pessoas solitárias, porém conectadas, impacientes, porém ágeis, sem raciocínio, mas muito bem informadas. Somos fotógrafos, músicos, Djs, críticos de cinema, gourmets, comentaristas políticos, designers, cinegrafistas e não somos nada disso. Os smartphones melhoraram demais nossa vidas, não acham?





22.12.12

Já que o mundo não acabou





Quem me conhece sabe que eu sou um daqueles que esperava que algo pudesse acontecer até 21 de dezembro de 2012. Não esperava pelo fim do mundo, mas passei os últimos 3 anos com a esperança de que o 21 de dezembro fosse o início de um período de evolução do homem, onde o individualismo seria deixado de lado e a união entre as pessoas seria uma realidade. Mas na minha concepção, isso somente seria possível com algum tipo de cenário de situação extrema, que forçasse todas as pessoas a repensarem seus comportamentos, como uma crise financeira violenta, ou algum tipo de catástrofe de proporções maiores. Bom, nada disso aconteceu, e aqueles que riam dos que acreditavam em algo parecido com o que eu pensava, estão rindo ainda mais. Mas, deixando as brincadeiras de lado, já que o mundo não acabou, acho que precisamos repensar muitas coisas que acontecem hoje. Abaixo, alguns pontos:

- Menos individualismo. Deveríamos ver os outros como pessoas que têm os mesmos medos, mesmos sonhos e a mesma vontade de ser feliz que nós. Esse sentimento de separação, de que é cada um por si e dane-se o outro não faz sentido algum. Essa forma de pensar leva as pessoas ao isolamento, à solidão e espalha um sentimento de desconfiança em tudo o que fazemos. Ninguém confia mais em ninguém, porque existe uma grande chance de ser passado para trás. Seja lá o que isso queira dizer...

- Mais contato com a natureza. Quem vive nas cidades, tem contato quase zero com a natureza. Compramos produtos prontos, que já vêm embalados, não cultivamos nada e nem sequer sabemos, como se planta um tomate. O contato da natureza de uma pessoa da grande cidade, como um paulistano, é uma caminhada no parque ou um passeio de bicicleta pela ciclofaixa. A natureza revela muitos ensinamentos, nos coloca no momento presente e passamos a entender melhor a vida. Isso precisa ser mudado nas cidades.

- Menos foco no dinheiro. A maior parte do nosso dia é voltada para o dinheiro. Passamos cada vez mais tempo no trabalho, pensando em números, sendo cobrados por resultados, almejando produtos e novas compras. Quando o dinheiro deixar de ser uma obsessão, poderemos desfrutar de tudo que existe no mundo e todas as experiências que podemos ter. Mas hoje pensamos, “quando eu tiver dinheiro para isso, quando eu alcançar R$ xx, quando eu ganhar...”.

- Pensar mais pelo outro. Se tirarmos o foco em nós mesmos, começamos a ver novas possibilidades de ajudar todas as pessoas que conhecemos e gostamos. Faça um teste. Pare de pensar por alguns minutos em como você pode ser mais feliz, ou no que deve fazer da sua vida. Escolha uma pessoa que você conhece e pense em como pode ajudar ela. Seja com alguma necessidade que ela tem, algo que já te contou, uma indicação de algum contato relacionado ao trabalho, alguma maneira de realizar um pequeno sonho ou desejo dessa pessoa. Veja como isso já muda a maneira como você se sente. E isso abre um leque completamente novo de ver a vida...

Aquela frase “não tenho medo de mudanças, tenho medo que as coisas nunca mudem”, para mim faz total sentido nesse período. Já que o mundo não acabou e nada mudou, podemos começar a mudar um pouco a cada dia. O ano novo traz novas energias e recarrega nossas baterias para novos planos. Do jeito como está, não está legal...E o 22 de dezembro pode ser o início de um novo ciclo e um novo período, onde quem sabe, poderemos viver melhor e com mais alegria...

26.8.12

Dia 30 - Ensinar alguma coisa que você saiba fazer a alguém


Última tarefa! Demorei mais tempo do que imaginei que fosse preciso, mas acho que tudo correu como deveria ser. Estou terminando o desafio hoje, embarcando por duas semanas férias amanhã e na volta, não estarei mais na casa dos meus pais. O fim de um ciclo. Esse período do desafio foi realmente transformador. Fiz coisas que jamais pensei que pudesse fazer, tentei me abrir mais, ser mais livre com sentimentos e emoções e esse blog foi meu instrumento de libertação.

Há alguns meses, vi uma palestra de Rick Warren, autor do livro “Uma Vida com Propósitos”. Ele fala justamente sobre como viver com mais plenitude e se sentindo útil. Uma das lições sobre a qual ele fala é que devemos buscar saber o que temos nas mãos, o que nos foi dado nessa nossa vida e analisar como estamos utilizando isso. Quais são os talentos e habilidades que você tem e como você os utiliza? Não me considero uma pessoa com alguma habilidade específica que pudesse me colocar em lugar de destaque, ou a ponto de poder ensinar as pessoas. Esses dias de 30-Day Challenge, me ajudaram a chegar um pouco mais perto do que imagino ser uma maneira mais correta de se viver e gostaria de aproveitar essa última tarefa para contar a vocês, amigos que me acompanharam nesse período, as coisas que pude aprender.

1 – Rotina só existe se você quiser. Muita gente passa a vida reclamando da rotina. Reclamam que fazem sempre as mesmas coisas e que estão infelizes com a vida que levam. Fazendo pequenas mudanças, a rotina desaparece. O dia em que saí sem carro é um bom exemplo disso. E coisas ainda menores podem ser feitas. Experimente reparar mais no que está ao seu redor e nas coisas que vê no caminho. É como se um novo leque de opções se abrisse.

2 – Pensar demais atrapalha. Dizem que o homem utiliza apenas 10% da capacidade do seu cérebro. Acho que os outros 90% são utilizados com suposições e criando cenários que nunca existiram e nem vão existir.  Saia da sua cabeça e veja como as coisas mudam para melhor.

3 – A melhor maneira de parar com pensamentos negativos é a ação. Muitas vezes fiquei nervoso com as atitudes que iria tomar, sendo tomado por centenas de pensamentos e enquanto não agisse, esses pensamentos me dominavam. Quando nosso eu crítico ameaçar aparecer, quebre com ação. Pare de pensar e simplesmente faça.

4 – Elogie sempre que possível. Algumas pessoas me criticaram ou ironizaram esse desafio em que me lancei. Mas recebi o elogio de muitas outras. E esses elogios têm o efeito de eliminar as críticas e torná-las irrelevantes.  Todas as pessoas procuram aceitação e muitas vezes questionam se estão fazendo o certo. Elogiá-las mostra que estão no caminho certo. Nunca é demais. Sempre é bem aceito.

5 – Se o que você pretende fazer vai beneficiar outra pessoa, faça! É engraçado, mas algumas das atividades que fiz tinham o intuito de ajudar as pessoas e mesmo assim eu ficava receoso em fazer. Por que motivo? Se a idéia é fazer o bem, por que ter medo? Faz bem se generoso. Ser generoso com os outros, deixa as pessoas com quem você interage felizes e faz você se sentir bem. Acho que esse é o combustível para melhorar a sociedade. Se todos fossem generosos, que espaço restaria para o individualismo?

6 – As pessoas que gostam de você, sempre vão querer a sua felicidade. Não tenha medo da crítica, ou de desagradar as pessoas que você mais gosta. Se o que você pretende fazer tem sua felicidade como finalidade, você não vai desagradar a essas pessoas. Elas querem o seu bem, tanto quanto você.

7 – Acabe com o isolamento. Entre em contato com as pessoas que você gosta. Ligue para seus amigos, escreva mensagens bacanas, visite essas pessoas. As barreiras que nos separam são invisíveis e alguém precisa rompê-las. Não pense que as pessoas não ligam para você. Elas apenas estão presas nas mesmas barreiras invisíveis que você.

8 – Contato com a natureza. Uma das melhores heranças que terei desse desafio, foi ter adquirido o hábito de cuidar de um jardim. A natureza revela todos os ensinamentos que precisamos e nos coloca no presente. É possível aprender muito reparando nas plantas, nos animais e em tudo que é natural. Devemos deixar nossa vida ser natural como a natureza.

9 – Não existe certo ou errado. Se você busca fazer o bem, evoluir ou a felicidade, a sua maneira é a maneira certa. Se pensasse em regras, certo, ou errado, não teria completado esses desafio. Por vezes pensava se estava cumprindo corretamente as tarefas, mas desde que estivesse buscando me tornar uma pessoa melhor, estava no caminho.

10 – Constância. Ter constância é fundamental para conseguir criar novos hábitos e mudar comportamentos. Nos períodos em que tive constância, tudo fluía mais fácil. Quando perdi a constância, tive dificuldades, deixei a rotina me engolir, perdi o espírito de fazer o bem. Ghandi disse que “pensamentos tornam-se ações, ações tornam-se hábitos, hábitos tornam-se caráter e nosso caráter se torna nosso destino”.

Nesses 60 dias que duraram meu desafio de 30 dias (rs), pude aprender essas coisas que citei acima. Claro que ainda tenho dificuldade em aplicar todos esses insights no meu dia-a-dia. São coisas que aprendi, mas que ainda não são hábitos meus. Como vocês puderam acompanhar,  tenho muitos anseios, medos e inseguranças que me impedem de ser totalmente livre. Mas acho que estou caminhando passo a passo para melhorar. Não tive a pretensão de ser melhor que ninguém, nem de me mostrar uma pessoa que não sou. Apenas busco ser um ser humano melhor que já fui.

Obrigado a todas as pessoas que acompanharam esses posts, que me enviaram mensagens de apoio e elogios. Foi daí que tive força e disciplina para completar.

Para terminar, revelo um segredo. Todos os dias, quando ia começar a escrever, colocava o fone e ouvia a essa música. Foi o tema que deu a inspiração dos meus textos.



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Dia 29 – Visitar um parente que você não veja com freqüência

Quando comecei esse desafio, achava que uma das primeiras tarefas que realizaria seria visitar um parente. Assim, pensei em deixar mais para o final, para ficar na manga, e realizar quando tivesse dificuldade com outras tarefas. Acabou que foi uma das tarefas que mais tive dificuldade de realizar. Curioso, não?
Acontece que à medida que postava minhas tarefas no blog, mais gente ficava ciente do que estava fazendo. E aí começou a acontecer uma coisa que é muito ruim para a realização de atividades. Fiquei preso dentro dos meus pensamentos, achando que as pessoas poderiam achar que eu estava visitando apenas para cumprir uma tarefa e postar no blog. Uma atitude egoísta e não uma visita genuína. Com isso, limitei as minhas escolhas e apesar de ter uma família grande, fiquei com vergonha de ligar para encontrar alguns parentes que poderia ter visitado. No fundo, é verdade que visitaria para cumprir a tarefa, mas na realidade são atividades que são de fato transformadoras e mudam a maneira como você se comporta. Portanto, mesmo que você esteja fazendo algo por você mesmo, se trouxer alegria para os  outros, então tudo bem.
Hoje em dia, fazer uma visita pessoal é uma coisa incomum. Especialmente em uma cidade como São Paulo. Temos contato com centenas de pessoas pelas nossas redes sociais, mas não falamos mais com elas. Fazer uma visita em suas casas é algo ainda mais raro. Quando foi a última vez que você ligou para alguém que não via há um tempo e disse “Estou dando uma passada para fazer uma visita, ok?”? Apenas vamos à casa das pessoas quando ela nos convida e ainda assim, vejo que esses convites têm ficado cada vez mais escassos. Está cada vez mais difícil encontrar as pessoas que queremos por perto. Todo mundo está sempre ocupado com trabalho, eventos pessoais e os diálogos  costumam ser mais ou menos assim:
- Po, que saudade de você.
- Pois é, eu também. Você sumiu.
- Eu to sempre por aqui, você que sumiu.
- É verdade, vamos marcar alguma um dia desses.
- Vamos sim. To indo viajar daqui duas semanas, mas quando eu voltar a gente marca.
E nunca marcamos. O tempo passa e você se afasta das pessoas. Fiquei de visitar alguns amigos quando seus filhos nasceram e quando o fiz, o filho já estava como mais de um ano. Outros, fui deixando o tempo passar e não visitei. E depois de tanto tempo, você fica com vergonha, por ter passado tanto tempo. Acho que é assim que as pessoas se afastam. O tempo traz consigo um componente psicológico, que deixa o contato esquisito e supostamente inadequado.
Como disse no começo do post, achei que fosse ter mais facilidade com essa tarefa. Tive sentimentos esquisitos, como achar que poderia incomodar alguém e dar trabalho ao ir até sua casa e fazê-la me receber, tentar adivinhar o que ela poderia pensar de minha visita ou ligação inusitada. Um misto de nervosismo, ansiedade e receio de incomodar. Ridículo,não é mesmo? Eu invejo a simplicidade da vida no interior, onde as coisas e as pessoas não têm essa complexidade. Falo por mim, mas acho que muita gente vive a mesma situação.
Hoje fui com meu pai e minha irmã visitar minhas tias avós. São duas irmãs da minha avó que vivem sozinhas e somente encontro em festas grandes (casamentos ou aniversários múltiplos de 10) ou em velórios e enterros. Elas vivem no mesmo bairro onde trabalho e ainda assim as vejo com pouca freqüência. E foi muito gostoso.
Encontrar pessoas que gostam bastante de você mostra o quão ridículo é hesitar em visitar. Você sempre será bem recebido pelas pessoas que gostam de você e sempre levará um pouco de alegria para elas. Tomar chá, comer bolo, ouvir histórias e sentir que tem gente que você não vê com freqüência e que deseja o seu bem sempre. Como disse Vinícius de Moraes, “a vida é a arte do encontro”

22.8.12

Dia 28 – Dizer “Eu te amo” para alguém que você não costuma dizer


28ª tarefa sendo realizada no dia do meu 28º aniversário. O dia certo para fazer resoluções é o réveillon ou o dia do seu aniversário? Eu particularmente gosto de fazer resoluções e planos para um ano novo. A vida é feita de ciclos. A natureza tem ciclos: as plantas nascem crescem e morrem, o sol nasce, brilha no céu e se esconde no horizonte, os animais se orientam por ciclos. Os ciclos fazem parte da nossa vida. O fim do ano de um calendário marca o fim de um ciclo e com o início de um novo período. A energia se renova e se revigora. Penso que devemos aproveitar esses ciclos para repensar nossas atitudes e comportamentos, buscando sempre nos tornarmos pessoas melhores.

1º de janeiro é uma data em que faço planos e repenso meus objetivos. E 22 de agosto é a data em que faço balanços sobre esses planos traçados e repenso minha vida. Tem gente que aproveita o aniversário para cumprir promessas, como parar de fumar, ou começar academia. Eu procuro pensar em coisas um pouco mais subjetivas e ver o que posso melhorar em termos de comportamento e na maneira como conduzo minha vida.

No começo desse ano, meu objetivo maior era levar a vida com mais leveza. Me cobrar menos, confiar que as coisas acontecem da maneira como devem ser e que tudo é perfeito. Olhando para trás agora, penso que dei um belo passo nesse sentido, especialmente quando vejo que consegui colocar mais coisas em prática, como esse desafio, por exemplo, sem me apegar muito ao resultado, ou ficar com medo do que possa acontecer. Pensar menos e fazer mais. No entanto, ainda penso muito que as coisas dependem de mim e que eu sou responsável por tudo que me acontece. Isso tira um pouco da leveza e me tira do presente, uma vez que fico tentando avaliar se o que faço é correto, ou tentando supor o resultado de cada atividade. Por isso é bacana aproveitar o dia do aniversário para repensar os objetivos traçados e redirecioná-los.

Ultimamente, tenho tentado ser mais livre em relação aos meus sentimentos e tentar racionalizar menos. E é exatamente isso que pretendo prestar mais atenção. As tarefas que realizei nesse desafio e especialmente os textos que escrevi e a maneira como me expressei têm me ajudado muito a ser mais livre. Sinto que quem não me conhece, começa a conhecer melhor as coisas que passam pela minha cabeça, e quem já me conhece, consegue entender melhor meus anseios. Isso é um grande passo para uma libertação maior.
Para algumas pessoas, dizer “eu te amo” é uma coisa muito comum, simples e fácil. Para mim, nunca foi. Talvez porque minha família também é mais reservada, ou simplesmente porque não tenho esse hábito. Minha namorada Vitória tem sido a pessoa que mais tem me ajudado a me abrir mais e expressar melhor meus sentimentos.

Além do fim de um ciclo de 365 dias que termino ao completar 28 anos, estou de malas prontas para deixar de morar na casa dos meus pais, talvez apenas temporariamente, ou possivelmente o fim de mais um ciclo. E por mais absurdo que isso possa parecer, não me recordo da última vez em que disse “eu te amo” para meus pais. Assim, gostaria de aproveitar esse desafio de hoje e as boas vibrações que recebi de todos meus amigos pelas mensagens de feliz aniversário que recebi de meus amigos e repassar isso aos meus pais e à minha irmã. São as pessoas que mais amo nesta vida e as que menos recebem demonstrações de afeto de minha parte. Pai, Mãe e She, amo vocês!

Aos meus amigos, obrigado pelas mensagens de feliz aniversário. Amo vocês todos também!

20.8.12

Dia 27 - Convidar amigos para um jantar



Mais um longo período sem cumprir nenhuma tarefa. O final do desafio limita um pouco minhas ações e dificulta a realização. Tenho percebido cada vez mais uma característica minha que antes achava positiva, mas que acho que me prejudica mais que ajuda. Tenho muita iniciativa para fazer muita coisa, gosto de fazer várias coisas ao mesmo tempo, ocupar minha agenda e minha cabeça com planos e tarefas, mas tenho dificuldade de completá-las. Isso vale tanto para coisas da minha vida pessoal que começo a organizar e deixo semi-organizada, idéias que começo a rabiscar e depois ficam intocadas e até atividades do meu trabalho. Refletindo sobre isso, tenho algumas vagas idéias do que podem gerar isso: o falso pensamento de que o desafio maior já foi batido (começar, ou fazer grande parte), a vontade de querer que algumas coisas durem mais tempo (sempre fico triste quando as coisas chegam ao fim, seja viagem, um show, um filme ou mesmo uma semana) e o desejo de querer fazer da melhor maneira possível, que acaba por me paralisar. 

No caso desse desafio, acho que essas três coisas estão presentes: Penso que o mais difícil já fiz e estou de certa forma, orgulhoso de mim mesmo, não queria que esse desafio tão legal de se realizar terminasse e queria que os últimos posts fossem os melhores. Resultado: 4 tarefas para o fim e fiquei paralisado.

Essa é a semana do meu aniversário e portanto, uma boa semana para completar não vou decepcionar quem acompanhou todos os outros dias.

Sábado aproveitei para comemorar meu aniversário com um churrasco com amigos. Sou daquelas pessoas que gosta do seu aniversário e de comemorar. Acho que mais do que simplesmente comemorar mais um ano de vida, é a possibilidade de juntar todas as pessoas que mais importam para você. No meu caso, namorada ( :) ! ), amigos e família. Muitas vezes deixamos de fazer coisas pensando no dinheiro. Pensamos em quanto vamos gastar, em quanto isso pode nos atrapalhar com nossas finanças, mas a verdade é que distribuímos o montante que ganhamos. Tente pensar em todo o dinheiro que você gastou com eventos que não lembra nem ter ido, com coisas que comprou e nem sabe onde estão hoje, ou com manutenção de coisas que nem mais tem. Pensem em quanto dinheiro você gastou com pessoas que sequer sabe onde estão hoje. E quanto você gastou com pessoas que estão o tempo inteiro com a gente? Provavelmente o valor que gastou com as pessoas que você mais ama é MUITO inferior a esses outros gastos. Pensando dessa maneira, faz todo sentido convidar mais seus amigos para jantares, churrasco, ou eventos. Presentear mais essas pessoas, seja em datas especiais ou sem motivo algum. É apenas uma questão de deixar tudo proporcional.

Para mim, essas pessoas queridas têm o efeito de me fazerem ser uma pessoa melhor. É pensando em agradar elas que faço as coisas que faço e são elas que me dão forças e incentivos para buscar realizar meus sonhos pessoais. Estamos todos conectados e não é possível se realizar individualmente sem a ajuda e a companhia de outros.

A grande lição que tiro desse final de semana é que dinheiro gasto pelas pessoas que você gosta é muito bem gasto. Pretendo fazer isso mais vezes e à medida que meus rendimentos aumentarem, seria legal manter uma certa proporção disso, em relação a outros gastos supérfluos que temos.

7.8.12

Dia 26 - Dar uma gorjeta gorda para alguém que lhe prestou um serviço


Onze dias sem escrever. Como já cheguei a dizer em algum dos posts, imaginava que poderia ter dificuldade para terminar. Mas não esperava que poderia chegar a ficar tanto tempo como esses onze dias. Minhas desculpas? Teria muitas para dar, mas usá-las seria enganar a mim mesmo. A verdade é que não tive a disciplina para terminar as tarefas. Talvez pelo fato de estar chegando perto do final, relaxei. Como se esses 25 dias já tivessem provado para mim mesmo de que sou capaz. Ou como se atingisse uma zona de conforto. Me faz lembrar o dia que dormi no volante voltando para casa e bati o carro a 200 metros de casa, dentro do meu condomínio, por relaxar no final, depois de um caminho de 30km lutando contra o sono.
                
Quando você fica um dia sem escrever, sente um pouco mais de dificuldade no dia seguinte. Quando você fica mais tempo sem escrever, a força necessária para retomar um hábito é muito maior. No meu caso, a dificuldade era dupla: realizar uma tarefa durante o dia e escrever à noite. Quando digo dificuldade, estou tentando me convencer de que é difícil, mas a bem da verdade é que depende apenas de um esforço pequeno inicial. Depois as coisas fluem. Forcei-me a fazer prestar mais atenção ao meu dia de hoje, para encontrar uma atividade que pudesse realizar e estou me forçando a escrever agora. São 23:11. Acabei de chegar em casa, estou cansado, mas senti que se não escrevesse hoje, poderia ficar ainda mais complicado amanhã.

Parei para abastecer o carro ao sair do trabalho em direção ao estúdio onde ensaio com minha banda. O frentista sorriu simpático e me pediu para encostar em uma bomba. Encostei e disse o tradicional: “completa com gasolina, chefe”. Ele respondeu me dizendo que não era naquela bomba e que deveria ir para outra. Na hora pensei “Po, ele que me mandou encostar naquela.” Liguei o carro e manobrei para parar o lugar onde ele me sinalizou. Pedi para aproveitasse e calibrasse meus pneus. Ele perguntou  quantas libras e respondi:  “32 na frente e 30 atrás”. Estava distraído mexendo no celular e quando olho, ele está calibrando os pneus de trás com 32. Fez confusão. Avisei o frentista, que sorriu e pediu desculpas.  Ameacei ficar irritado com suas trapalhadas, mas cortei esse pensamento. Após calibrar o pneu, trouxe a máquina do cartão. Passou o valor errado e eu o corrigi. Passou novamente, dessa vez o valor correto e pediu para que assinasse a primeira via que saiu da máquina. Pedi uma caneta e ele disse que não tinha. Saiu para buscar. Eu estava um pouco atrasado para o ensaio e acho que por isso ameacei me irritar novamente. Quando ele voltou, abriu um sorriso e me entregou a caneta. Ele estava completamente atrapalhado, e pude perceber isso. Ao invés de criticar ou reclamar, sorri de volta e decidi dar-lhe uma bela gorjeta. O sorriso que abriu foi ainda maior. Após todas essas “trapalhadas”, acho que não esperava ganhar nada em troca, pelo contrário. 

Qualquer paulistano reclamaria do atendimento. Mas quem disse que temos que  agir sempre do mesmo jeito? Somente que presta bom serviço deve ser recompensado? O sorriso e a pureza ao pedir desculpas valem tanto quanto um bom serviço prestado. Pelo menos para mim. Pelo menos dessa vez...  

26.7.12

Dia 25 - Um dia respeitando todas as leis


Dia 25 - Recolher todo o lixo que encontrar na rua  Um dia respeitando todas as leis

No dia em que saí sem carro de casa, aproveitei para prestar atenção se seria possível fazer a tarefa de recolher todo o lixo que encontrasse na rua. Vi então que era impossível, como previra meu amigo Murilo no dia em que postei os 30 desafios. Se saísse a pé, passaria o dia todo recolhendo coisas do chão. E se saísse de carro, não teria como recolher nada. Então, pela primeira vez, como um Silvio Santos na Casa dos Artistas, vou mudar as regras e trocar esse desafio. Pensei em um outro que fosse mais ou menos similar e que fosse possível de ser realizado: Passar um dia todo, sem burlar nenhuma lei (ok, pode parecer um belo dum paradoxo, mudar a regra para um dia sem burlar regras, mas essa é a graça).
Antes que pensem coisas erradas de mim, não, não sou fora da lei, ou um cara que infringe a legislação. Mas como todo mundo, acabo fazendo coisas que não poderiam ser feitas. Vamos a algumas:

Regras de Trânsito: Falo no celular enquanto dirijo TODOS OS DIAS. É uma das maneiras de aproveitar melhor o tempo no trânsito. Falo sobre coisas do trabalho enquanto vou para o escritório e ao final do dia, converso com algum amigo, ou adianto alguma coisa que se discutida no mundo virtual demoraria muito mais. Acho essa regra, de certa forma meio engessada. Ok, falar no celular enquanto se dirige em alta velocidade pode ser perigoso. Mas e quando o trânsito está parado? Que mal posso causar? De qualquer maneira, hoje evitei isso. Quando me telefonaram e estava no carro, não atendi. Insistiram na ligação, atendi pelo viva voz e disse rapidamente que estava dirigindo e retornava depois. Esquisito fazer isso, e acho que conseguiria atender a ligação sem gerar nenhum mal, mas me propus a seguir tudo.

Limite de velocidade: Não sou um cara imprudente no trânsito, mas tem algumas vias que têm limites de velocidade que para mim, são claramente uma maneira de ganhar dinheiro. 60km por hora em algumas vias expressas é um verdadeiro absurdo. Hoje me limitei a esse limite e vi como mesmo quando você faz as coisas certas irrita as outras pessoas. Respeitando o limite de 50km no túnel fui pressionado pelo carro de trás que vinha mais veloz. E olha que não estava na faixa da esquerda.

Atravessar na faixa de pedestre: em frente ao meu escritório fica uma avenidona e confesso que sempre que preciso atravessar, o faço sem ir para a faixa de pedestre que fica à 200 metros para a direita. Nesse caso, não contesto essa lei, apenas não tenho paciência. Mas é a mesma lógica de atravessar na passarela. E eu sempre me incomodo com pessoas que atravessam a rodovia embaixo da passarela. Então vamos ser coerentes, não é mesmo?

Baixar músicas: Isso é uma prática que praticamente já aboli. Baixando músicas ilegalmente, acabo contribuindo para uma crise na indústria da música e prejudicando artistas. Tudo bem que o modelo deve acompanhar a tecnologia, mas isso é uma outra discussão. E se eu comprar algumas músicas pelo itunes, não me sairá muito caro mensalmente, e ganho com a praticidade e facilidade das músicas simplesmente pularem para o meu celular. Àqueles que contestam esse meu argumento, recomendo ler por completo o texto desse link que recebi do meu amigo Sandro. http://thetrichordist.wordpress.com/2012/06/18/letter-to-emily-white-at-npr-all-songs-considered/

A conclusão que chego com esse desafio de hoje é que muitas vezes nem percebemos as regras que burlamos. São coisas banais que fazemos no dia-a-dia, como essas que citei acima, e para mim significam três coisas: a primeira é a de que somos contraditórios, pois exigimos dos outros o cumprimento das leis e regras que nos convém e não fazemos nossa parte, quando não nos convém. A segunda, é a de que quando são criadas leis burras, ou engessadas, a tendência é ninguém cumprir e banalizar, como o limite de velocidade em algumas vias. E a terceira é que muitas vezes acabamos infringindo as leis, como maneira de fazer nossa própria justiça, como no caso da carteirinha de estudante (onde não se paga metade, mas o valor correto, enquanto quem não tem, paga o dobro).

24.7.12

Dia 24 - Dar flores para uma mulher





Se ontem foi o dia 22, por que hoje é o dia 24? Ontem fiz duas tarefas e se considerar sendo o dia 23, vou finalizar o desafio no dia 29. Aí vai perder toda a graça. A proposta inicial desse desafio era realizar 30 tarefas em 30 dias. Não consegui. Então a contagem por dias deixou de fazer sentido. A bem da verdade é que isso pouco importa. O que importa é o que estou buscando fazer a cada dia. Pensando nisso, é engraçado ver como ficamos confusos com regras. As regras existem para que tenhamos um pouco mais de ordem na nossa sociedade. Vivemos sempre tentando fazer as coisas direito, julgando entre certo e errado. No começo fiquei pensando que se não realizasse em 30 dias, fazendo uma tarefa por dia, não estaria fazendo certo. Mas quem disse que existe certo ou errado? Se seguisse essa lógica, teria errado, então seria desclassificado do desafio e teria parado na 2ª semana...hahalha. Veja bem, se a idéia do Challenge é mudar minha rotina e quebra meus paradigmas, não preciso de ordem. É mais interessante que tenha um pouco de desordem. E essa confusão com dias e desafios é parte disso...

A tarefa de hoje fui difícil para mim. Interessante ver como as pessoas são diferentes. Se cada um tentar fazer esse desafio com essas tarefas, teremos dificuldades diferentes para cada um. Assim como para algumas passar um dia sem carro é moleza e para mim complicado, comprar flores pode ser um ato simples e comum para uns e difícil para mim. Difícil porque uma das maiores dificuldades que tenho é de demonstrar sentimento e expor emoções. Mesmo e especialmente com pessoas da minha família.

Voltando para casa, decidi parar no Pão de Açúcar e comprar flores para minha mãe e para minha avó. Parece uma coisa muito simples, mas quando você tem 28 anos e nunca fez isso na vida, percebe que não é fácil. O ato em si é fácil. Pare numa loja ou floricultura, escolha as flores, pague e dê de presente. Mas o processo mental de tudo isso é meio complicado, quando é uma coisa que você não faz. E esse é o que tem sido o maior aprendizado e o maior benefício que estou tendo. Quebrar amarras mentais. Fiquei pensando que seria esquisito e que minha mãe acharia esquisito eu fazer isso do nada. Mas como em todas as ocasiões, basta quebrar os pensamentos com ações.

Escolhi duas flores que gostei e achei que pudessem agradar essas que são, junto da minha irmã, as mulheres mais importantes da minha vida. Demorei a escolher, confesso, com medo de errar na escolha (vejam como a decisão entre achar certo ou errado se faz presente nas nossas atividades. Não existe certo ou errado. Existe o que achamos a melhor coisa a se fazer). Escolhi e entrei na fila do caixa para pagar. Então uma cena legal. O rapaz que estava à minha frente, reparando nas flores que estava comprando, saiu da fila e escolheu também um vasinho de flores para levar. Não sei se ele sentiu-se estimulado, ou se apenas se lembrou de que precisava comprar,  mas o fato é que me senti bem, como se estivesse influenciando alguém a fazer algo legal. Ao chegar minha vez, a operadora de caixa me olhou com olhos de ternura, como se pensasse “ah, que simpático, levando flores”. Mal sabia ela que era um momento raro...hahaha.

Chegando em casa, dei as flores de presente para minha mãe e obviamente que ela não esperava. Com certeza a primeira coisa que pensou foi no meu blog. Claro que fui estimulado por isso, mas para mim, sei que não é apenas o cumprimento de uma tarefa. É um esforço para me soltar mais e expor mais meus sentimentos. Quebrar uma barreira para tornar isso uma coisa mais fácil de se fazer. E é também uma maneira de agradecer por toda ajuda que tenho recebido dela nas últimas semanas. Ela sabe do que estou falando. Apesar de se me considerar bastante diferente da minha mãe, sei que duas das minhas principais características vêm dela:  a paixão pela música e instrumentos musicais e o interesse pela espiritualidade.

É sempre mais difícil fazer coisas diferentes pela primeira vez. Depois fica fácil. Infelizmente minha avó já estava dormindo. Deixei o vasinho que comprei ao lado da sua cama e quando ela acordar vai encontrar. Espero que a deixe feliz, especialmente porque ultimamente tem estado com a saúde um pouco debilitada.  

Estou quase completando o desafio e consigo sentir em mim o efeito das últimas semanas. Quem me conhece sabe como é estranho eu estar falando sobre as coisas que escrevi hoje. A idéia do desafio era justamente essa e acho que estou conseguindo...

23.7.12

Dia 22 - Um dia sem carro / Dar bom dia para 10 pessoas diferentes



Para algumas pessoas, passar um dia sem carro é uma coisa normal, ou tarefa das mais fáceis de se cumprir. Para mim não. Não porque raramente ando de ônibus, mas porque moro a 36km do meu trabalho (mapa abaixo) e o percurso exige um pouco mais do que simplesmente pegar um ônibus.
Essa foi a tarefa mais difícil de ser realizada e que exigiu o maior esforço.  Mas também foi uma das mais gratificantes e que rendeu a maior quantidade de insights. Por que mudar a rotina, deixar a comodidade e facilidade do carro, para sofrer no transporte público?

Aproveitei que hoje era o dia do rodízio do meu carro para sair para essa aventura (sim, quando você muda sua rotina e vai fazer uma coisa que nunca faz, um simples trajeto normal vira uma aventura). Saí de casa pontualmente às 7hs da manhã, coloquei roupas confortáveis e saí caminhando em direção ao ponto de ônibus. Da minha casa até a Raposo Tavares são 3 km, por uma estradinha sem muita opção de transporte público. Minha mãe, que estava em casa nesse horário, se ofereceu para dar uma carona até o ponto de ônibus, mas recusei, achando que seria interessante se pudesse ir caminhando, coisa que jamais fiz, nos  17 anos em que moramos aqui.  E de fato foi uma boa escolha. A caminhada inicial foi a melhor parte do dia. Em um dia de rodízio, costumo chegar no escritório depois das 10hs, então não tinha pressa para chegar, o que tornou a caminhada mais agradável.  

Aproveitei o caminho para cumprir mais uma das 30 tarefas: dar bom dia para 10 pessoas diferentes. Enquanto eu caminhava em direção a rodovia, as pessoas que trabalham no bairro chegavam. Eram em sua maioria empregadas domésticas, pedreiros, pintores e jardineiros, imagino eu. Decidi dar bom dia a cada uma das pessoas que cruzava meu caminho. Fato engraçado de se perceber. A maioria das pessoas vem olhando firme com a cabeça erguida e quando cruzam seu caminho baixam o olhar, ou desviam, de maneira a não olhar no seus olhos. À todas as pessoas dizia “bom dia”. A maioria respondia, surpreendida pela saudação, com um bom dia baixo de volta. Alguns sorrisos. Outras ignoravam, e algumas nem sequer ouviram, tão presas por seus pensamentos que estavam. À medida que me aproximava da Raposo, o sol brilhava mais forte, o barulho dos carros aumentava e as pessoas ficavam mais frias. A sensação do caos do trânsito começava a aparecer. E então as pessoas deixavam de responder de volta. Então parei de dizer. Mas o resultado? Ao invés de 10, dei bom dia para 39 pessoas.

Parei no supermercado do bairro para comprar alguns pães de queijo (saí de casa sem café da manhã). Comprei mais do que comeria, para poder oferecer a alguém no caminho: “enquanto estiver no ônibus sentado, lendo meu livro, como uns pães de queijo e ofereço a quem estiver ao meu lado”, pensei. Chegando ao ponto, pedi informação a um jovem sobre qual ônibus deveria pegar para a estação Butantã do metrô. Ele gentilmente me respondeu, dando dicas dos ônibus que passavam mais vezes. Ofereci meus pães de queijo para ele e para as outras 3 pessoas que estavam no ponto. Nenhuma aceitou...hahaha... confesso que eu também não aceitaria. Quando meu ônibus apareceu, fiz sinal para que parasse, e então caí na realidade: Seria impossível ir sentado confortavelmente lendo um livro. O ônibus estava tão lotado que não conseguia nem entrar. Fiz sinal para o motorista dizendo que esperaria o próximo. Poucos minutos depois, veio outro. Dessa vez, um pouco mais vazio, ou melhor, menos lotado. Ônibus apertado, tive que ir de pé o trajeto todo. Tentei reparar bem nas pessoas que lá estavam. Quem estava sentado, estava dormindo. As demais pessoas, sem exceção, com semblantes fechados, em silêncio. Fiquei ressentido de ver essa cena, que deve se repetir sempre. Imagino o quanto deve ser difícil encarar isso todos os dias (e depois de hoje, consigo imaginar um pouco melhor). Parecia que as pessoas estavam sendo levadas à força naquele ônibus, para um lugar de tortura. Ninguém parecia feliz. E enquanto refletia sobre isso, olhei pela janela e vi o trânsito parado. Olhei para alguns motoristas e para minha surpresa (ou não) vi a mesma feição. Apesar de estar num carro, as pessoas estavam com o mesmo semblante, como se estivessem sendo levadas à força para onde quer que estivessem indo. Ver o mesmo trânsito que enfrento todos os dias de dentro do ônibus lotado me fez pensar de maneira diferente. É bem bizarro ter centenas de carros com somente uma pessoa dentro. Com certeza, Essa é uma das grandes causas do trânsito caótico de São Paulo.

Depois do trajeto de ônibus, desci na estação Butantã. Metrô cheio também, mas é inegável sua eficiência. Fiz um trajeto que de carro leva quase mais de 40 minutos em pouco mais de 15, do Butantã à Paulista. Fiz baldeação da linha amarela para a linha verde e depois, da linha verde para a linha azul. Essas duas últimas já estavam bem tranqüilas. Acredito que pelo horário, e também por estar indo no contra-fluxo da maioria. Cheguei ao escritório às 9h10. Duas horas e dez minutos depois de sair de casa. Se pensar que costumo demorar 1h30 de carro e que tive uma caminhada de quase 40 minutos, não foi tão demorado, mas o cansaço é muito maior. Cheguei mais cansado que normalmente, por motivos óbvios, mas o fato de ter mudado minha rotina me deu mais energia para trabalhar. Trabalhei o dia todo hoje com muito mais concentração e produtividade que o normal. Minha percepção do trabalho também mudou.

Ao final do dia, estava cansado mais cedo que o normal. E então caí na realidade novamente. Teria que fazer todo o trajeto de volta. E a volta foi bem mais complicada. Saí do escritório às 18h10. Poderia sair um pouco mais tarde, mas gostaria de testar a volta para casa no horário de pico. E te digo que foi tenso...haha. Na fila da bilheteria do metrô, tive a oportunidade de ajudar uma pessoa. Um jovem estava pedindo para as pessoas da fila, algum trocado para completar sua passagem de ônibus. Vi que estava constrangido, pois não parecia ser do tipo que precisava pedir dinheiro para passagem. Devia estar sem carteira. Enquanto algumas pessoas davam moedinhas, me ofereci para pagar o valor total que precisava.

Metrô lotado em todas as linhas. Dificuldade para entrar no vagão, para sair e para caminhar para a outra 
linha. Engraçado como as pessoas acabam adotando o mesmo comportamento que vejo sempre no trânsito. Algumas tentando ultrapassar as outras por fora, gente que não dá passagem e gente que acha que você está querendo passá-la para trás, simplesmente porque quer entrar na escada rolante. Muita gente reclama da falta de educação das pessoas no metrô, mas a mesma coisa acontece no trânsito (posso garantir isso, porque se tem uma coisa que eu conheço bem, é o trânsito). A caminhada pelo túnel da linha verde para a linha amarela se assemelha à saída de estádio lotado, ou, sendo mais ácido no comentário, à caminhada de bois para o matadouro. Como tem gente em São Paulo!!

Saí do metrô e caminhei em direção ao ponto de ônibus. Ao sair na rua, vi os ônibus completamente abarrotados. Pensei que novamente não teria vida fácil. Mas ao chegar no ponto, avistei uma lotação indo em direção ao meu destino e rapidamente entrei. Era como um microônibus. Não estava lotado, mas não tinha lugar para sentar. Fui em pé todo o caminho. A lotação é um meio de transporte bem perigoso. Por ser mais ágil, o motorista acaba comentendo mais abusos. As freadas são bruscas e o veículo te chicoteia para direita e para esquerda. O trânsito estava pesado e o motorista usava as áreas de escape e entradas de ponto de ônibus como verdadeiros corredores. Quando o trânsito começou a andar, a aventura ficou mais intensa. Meu microônibus se transformou em um carro de formula 1 e meu motorista virou o Fernando Alonso. Só que àquela hora, meu desejo de chegar em casa era tão grande que nem liguei. Desci no ponto em frente à estrada que leva ao meu condomínio completamente esgotado. Pensei que ainda teria que fazer uma caminhada longa. Mas resolvi que não iria caminhar e decidi pedir carona (tal como fazia quando era adolescente). Para minha surpresa consegui carona fácil. Não fiquei nem mesmo 10 minutos esperando. Vim conversando com o homem que me transportava, contando parte dessa jornada que narrei aqui. Ele mudou um pouco seu caminho para me deixar mais próximo de casa. Agradeci, desci do carro e caminhei mais alguns metros até terminar essa “aventura”.




Minha intenção com essa experiência não foi a de querer experimentar o que os outros passam, nem de querer me mostrar bonzinho. Foi apenas de sair da minha rotina. E posso dizer que apesar de todo o perrengue que passei, foi legal. Fiz coisas que nunca faço, vi por um outro ângulo as coisas que vejo todos os dias e meu dia foi bem diferente. Sim, tem também o fato de sentir na pele o que as pessoas com mais dificuldades financeiras passam. Passo a valorizar mais as pessoas que se esforçam para chegar no trabalho (vou pensar duas vezes antes de achar ruim o atraso de algum funcionário que more longe) e agradeço mais por ter meu carro.  Para aqueles que reclamam da vida, da rotina ou do seu trabalho, sugiro essa experiência. Com certeza a visão muda. E é uma maneira divertida de quebrar sua rotina e fazer algo de diferente. Agora são 22h20 e eu estou completamente esgotado...mas feliz e agradecido por tudo o que tenho. Boa noite!

22.7.12

Dia 21 - Fazer um elogio inesperado / inusitado


Perdi um pouco do ímpeto do começo do desafio, nos últimos dias. Já imaginava que isso poderia acontecer, que teria dificuldade especialmente para completar as últimas tarefas. A verdade é que recentemente percebi que tenho dificuldade em terminar as coisas que começo. Considero-me uma pessoa com bastante iniciativa, gosto de fazer coisas novas o tempo todo, mas muitas das coisas começam com um ímpeto grande e bastante energia envolvida e depois acabam sendo deixadas de lado.  Se por um lado esse comportamento me traz novas experiências e contato com coisas novas, por outra, sei que não é legal deixar coisas inacabadas.

E exatamente por isso, sei que preciso me forçar mais a ter constância e não deixar esse sentimento se 
dissipar. Faltam poucas tarefas e vou me dedicar essa semana a cumprir com mais disciplina. Sei que tem pessoas acompanhando de perto essa minha jornada e prometo não decepcionar.
Ontem fui a um shopping aqui perto de casa, para ver se encontrava um livro que estou querendo comprar e aproveitar para jantar. Sair sozinho para um passeio desses é interessante pois você consegue reparar melhor nas pessoas em volta e no local. Dei sorte, pois, por acaso estava rolando um festival de música no local. Quem me conhece sabe como gosto de música e em especial ver músicos performando ao vivo. No pequeno palco montado, havia uma dupla com um cara no violão e uma moça cantando. Versões acústicas de pop e rock, do estilo que eu gosto. Fiquei acompanhando por alguns bons minutos e depois fui comer alguma coisa, tentando ficar o mais próximo possível de onde eles estavam tocando. Consegui uma mesa que não dava visão para o palco, mas o som podia ser ouvido com clareza. O que mais gosto da música, não é simplesmente as composições, ou a melodia, mas o efeito que a música tem no ambiente. É como se estivéssemos em um filme e rolasse uma trilha sonora de fundo, embalando nosso pensamento. A música entra em vibração com nossa energia e influencia nosso comportamento e nossas emoções, como se fôssemos uma coisa só. Fiquei um tempão esperando meu pedido que demorou muito, mas o fato de estar escutando boa música fez com que nem ligasse muito.

Após terminar de comer, percebi que estava um pouco atrasado para o aniversário de um amigo e decidi ir embora. Enquanto esperava o elevador chegar, notei uma mulher vindo apressada em direção ao corredor em que me encontrava. Notei que era a moça que estava cantando no palco. Prestei atenção ao som, para ver se de fato era ela e como ouvia vocal masculino, conclui que era. Pensei em abordá-la para elogiar sua música. Nesse exato segundo, passaram alguns pensamentos pela minha cabeça como “ela deve estar com pressa, vou atrapalhar, ou vai ser esquisito, ou o elevador já vai chegar” Tudo em 3 segundos. As mesmas coisas que passam pela minha cabeça sempre que vou fazer alguma coisa que não está no script da minha rotina. Cortei esses pensamentos com a ação.

- Moça, é você que está cantando no palco, né?
- Isso – respondeu um pouco surpresa com a abordagem repentina e num local meio inusitado.
- Parabéns, o som está muito bom e vc ta cantando demais!

Ela abriu um enorme sorriso e agradeceu. Eu fiquei satisfeito por ter feito algo que queria fazer.

E esse é um dos grandes aprendizados que estou tendo com esse desafio. Mesmo quando queremos fazer coisas boas, quando pretendemos fazer alguma ação que vai fazer o bem para outra pessoa, relutamos. Porque não é normal. Para algumas pessoas, talvez fazer elogios em qualquer lugar possa ser uma tarefa comum e fácil. Para mim, nem tanto. E vamos mais uma vez buscando sair da inércia, quebrar o status quo e mudar o comportamento...

18.7.12

Dia 20 – Pensar em uma idéia para mudar o mundo


Esse desafio foi sugerido pelo meu amigo Edgar Chaves. Quando ele lançou essa idéia, torci um pouco o nariz, achei que pudesse ser muita presunção, ou algo impossível de realizar. Ele me disse então que a idéia era apenas pensar em alguma coisa, e dividir. Mesmo que fosse utópica ou mesmo que fosse só uma idéia vaga.

Desde que comecei o desafio, passei a prestar mais atenção nas coisas ao meu redor. Consegui ficar mais tempo no momento presente, e atento a tudo que deixamos de notar quando estamos presos nos nossos próprios pensamentos. E para mim, as coisas mais legais de se notar são as pessoas e a natureza. Faço isso especialmente no trânsito, tentando transformar um tempo perdido num tempo produtivo. Fico tentando advinhar o que se passa na cabeça das pessoas e quais são os problemas em que estão pensando.  A outra coisa legal de se reparar é a natureza. Em SP podemos ver como as leis da natureza são fortes, quando mantém árvores enormes em meio ao concreto e à fumaça.

Outra coisa que aconteceu depois que comecei o desafio é que passei a gostar de cuidar do jardim de casa. Tenho ajudado mais meu pai e de fato estou pegando gosto pela atividade. Quando se está trabalhando com a terra e com as plantas, você aumenta sua percepção do momento presente, acalma seus pensamentos e aprende como a vida funciona. O mecanismo da vida está lá. Na preparação da terra para jogar uma semente, na paciência para esperar brotar e esperar crescer. Outro dia vi uma frase que gostei tanto que anotei: “paciência é o intervalo entra a semente e a flor”. Então, quando se está em contato com a natureza, você se conecta com sua força interior e fica mais próximo do seu eu verdadeiro.

Vivemos em um mundo onde as pessoas estão pensando somente no material e acho que essa é a causa dos problemas. O foco no lucro te faz trabalhar mais, para juntar mais dinheiro, para poder comprar mais, para poder ter conforto, para poder ter condições de dar uma boa casa pra sua família, para poder dar boa educação para os filhos, para que eles possam ter condições de ir a boas universidades, e conseguir bons empregos, e ganhar mais....ufa...nao tem fim!

É aí que entra minha idéia para mudar o mundo. Precisamos fazer a sociedade voltar a ter esse contato com a natureza. O que é da natureza é muito mais belo que tudo e traz muito mais aprendizado (por que será que os sábios e filósofos sempre usam parábolas com animais e a natureza?). Ali está todo o conhecimento que precisamos. E com mais contato com a natureza, estaríamos mais tempo no presente, mais conectados com a verdade e os sentimentos negativos, aos poucos iriam se dissipando...


Essa é a raiz da minha idéia, vou desenvolver melhor nos próximos dias...